Fontes do governo israelense ouvidas por veículos de imprensa como CNN, Reuters e Times of Israel sugeriram que o desmantelamento do órgão — que foi comunicado aos ministros durante uma reunião de Gabinete mais ampla no domingo — era amplamente simbólica, já que, com a renúncia de Gantz e Eisenkot, a estrutura passou a ter só três membros.
Desde a saída da dupla, as discussões sobre a guerra vêm sendo conduzidas por Netanyahu em conjunto com seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, e conselheiros próximos, disse um funcionário do governo ouvido pelo New York Times. A dissolução do Gabinete de guerra formaliza esse processo. Também desarma pedidos dos parceiros de extrema direita da coalizão para preencher os lugares vagos.
Segundo apuração inicial do jornal israelense Haaretz, parte dos assuntos anteriormente tratados no Gabinete serão agora transferidos para o Gabinete de segurança, que inclui ministros como Ron Dermer, da pasta de Assuntos Estratégicos, Tzachi Hanegbi, chefe do Conselho de Segurança Nacional, e Aryeh Deri, presidente do partido Shas, que exercia papel de observador no órgão. Apesar de o grupo também incluir os líderes partidários ultranacionalistas Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional, e Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, que pressionavam para assumir as vagas, o novo formato com mais membros dilui a influência direta deles sobre a tomada de decisões.
De acordo com Eisenkot, a influência de Ben-Gvir há muito pairava sobre as discussões do Gabinete de guerra. Depois da renúncia de Gantz, ele imediatamente reivindicou entrar no grupo, escrevendo na rede social X (antigo Twitter) que era “tempo de tomar decisões corajosas, alcançar verdadeira dissuasão e proporcionar verdadeira segurança para os moradores do sul, norte e de toda Israel”.
Tanto Ben-Gvir quanto Smotrich defendem uma posição linha dura contra o Hamas e outras facções da resistência palestina em Gaza e na Cisjordânia ocupada. Além de considerarem o envio de ajuda a Gaza como um adiamento da vitória de Israel, vêm ameaçando derrubar o governo se Netanyahu concordar em pôr fim ao conflito. Ben-Gvir também já defendeu abertamente a reocupação de Gaza, uma linha que o comando militar e político do país não ousaram cruzar publicamente desde o início da guerra.
Nesta segunda-feira, Israel voltou a bombardear Gaza, mas as operações militares diminuíram após as Forças Armadas israelenses anunciarem uma suspensão “local e tática” na véspera, no primeiro dia em que os muçulmanos marcam o Eid al Adha, ou a festa do sacrifício.
Segundo o Exército, a pausa vai vigorar, até segunda ordem, entre 8h e 19h locais (2h às 13h no horário de Brasília) em uma área do sul de Gaza para facilitar a entrada de ajuda humanitária pelo posto de Kerem Shalom, que se tornou o único ponto de entrada de ajuda humanitária no sul da Faixa de Gaza após o Exército israelense iniciar uma operação terrestre no início de maio e assumir o controle da passagem na fronteira com o Egito. Controlado por Israel, Kerem Shalom fica na intersecção entre Gaza, Egito e Israel.
Apesar de uma fonte do governo israelense declarar que a pausa não configura uma “mudança na política do Exército” em Gaza, particularmente em Rafah, de onde centenas de milhares de pessoas fugiram por causa da ofensiva militar de Israel, os ministros de extrema direita criticaram a medida. Ben-Gvir a classificou como uma “abordagem louca e delirante”, descrevendo “quem tomou essa decisão” como “malvado” e “tolo”. Já Smotrich disse que a ajuda humanitária ajudou a manter o Hamas no poder e corre o risco de colocar “as conquistas da guerra no ralo”.
A ONU afirmou que “celebra” a pausa estabelecida pelo Exército israelense, mas disse esperar “novas medidas concretas” para facilitar a entrega de ajuda humanitária. O território palestino está sitiado quase desde o início do conflito, e as Nações Unidas alertam que a população enfrenta o risco de um cenário de fome.
Em uma mensagem por ocasião do Eid, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu no domingo à noite a aplicação do plano de cessar-fogo que seu governo apresentou no mês passado, afirmando que este “é o melhor meio para acabar com a violência em Gaza” e ajudar os civis que sofrem” há mais de oito meses os horrores da guerra entre o Hamas e Israel.
O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando membros do movimento palestinos deixaram quase 1,2 mil mortos, sendo mais de 800 civis, e sequestraram 252 pessoas no sul de Israel. Deste total, mais de cem foram libertados em uma trégua temporária em novembro, enquanto operações militares resgataram quatro deles vivos e repatriaram os corpos de outros 19. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que deixou pelo menos 37.347 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007. (Com New York Times)